A Volkswagen fechou uma fábrica na Alemanha, e a “culpa” é dos carros a combustão

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A Volkswagen decidiu encerrar a produção na fábrica de Dresden, Alemanha, devido a dificuldades com alocação de investimentos e altos custos, após anos de desafios com a transição para veículos híbridos e elétricos. A planta, que produziu menos de 200 mil carros desde 2002, será convertida em campus de pesquisa. O fechamento integra uma reestruturação maior, com corte de 35 mil empregos.
Montadoras europeias enfrentam pressão do avanço chinês, queda nas vendas na China e Europa, e tarifas nos EUA, além da necessidade de equilibrar fluxo de caixa. Apesar do crescimento dos híbridos, a transição energética está atrás do esperado, e a UE discute flexibilização das metas de banimento dos motores a combustão para proteger a indústria.
* Resumo gerado por inteligência artificial e revisado pelos jornalistas do NeoFeed
A supremacia chinesa no mercado global de veículos elétricos está ligando o alerta das montadoras europeias, que iniciaram tarde demais a transição dos carros movidos a gasolina para versões híbridas e elétricas e não estão conseguindo acompanhar a concorrência chinesa – na Europa e no país asiático.
A Volkswagen, por exemplo, deixará de fabricar veículos em sua fábrica em Dresden a partir de terça-feira, 16 de dezembro. É a primeira vez em seus 88 anos de história que a montadora encerrará a linha de produção de carros numa planta na Alemanha.
A decisão, a princípio, não tem relação direta com a concorrência dos carros elétricos chineses, mas revela as dificuldades da Volkswagen com a alocação de seu orçamento de investimentos de cerca de € 160 bilhões para os próximos cinco anos, considerando a expectativa de maior vida útil para os carros com motor a gasolina.
O orçamento rotativo, que é atualizado anualmente, sofreu cortes nos últimos anos. Para o período de 2023 a 2027, o valor equivalente era de € 180 bilhões.
A montadora alemã já vinha enfrentando desafios generalizados, com a expectativa de maior vida útil para motores a combustíveis fósseis, que exigiam novos investimentos, num momento em que europeus começam a aderir aos carros elétricos.
Em 2025, pela primeira vez, a venda de veículos híbridos superou a dos carros a gasolina no mercado europeu, com 34,8% contra 27,2%.
A planta de Dresden produziu menos de 200 mil veículos desde o início da produção em 2002 – menos da metade da produção anual da fábrica central da VW, em Wolfsburg.
A fábrica foi concebida como uma vitrine para a excelência em engenharia da Volkswagen e sua primeira função era a montagem do sofisticado VW Phaeton. Após a descontinuação do Phaeton, em 2016, a unidade de Dresden centralizou os esforços de eletrificação da Volkswagen, produzindo mais recentemente o ID.3, um veículo elétrico.
Os custos elevados de produção, porém, levaram a uma reestruturação das verticais da montadora alemã. O CEO da Volkswagen, Thomas Schäfer, disse no início do mês que a decisão de encerrar a produção foi tomada de uma “perspectiva econômica essencial”.
A rigor, a medida representa um passo simbólico da montadora em seus planos de reduzir a capacidade produtiva na Alemanha. As mudanças fazem parte de um acordo firmado com os sindicatos no ano passado, que também resultará no corte de 35 mil postos de trabalho da marca VW na Alemanha.
O terreno da planta será alugado para a Universidade Técnica de Dresden para a criação de um campus de pesquisa voltado para o desenvolvimento de inteligência artificial, robótica e chips.
Fluxo de caixa
A decisão da Volkswagen se encaixa num quadro mais amplo de dificuldades das montadoras europeias de manter o fluxo de caixa devido à queda nas vendas na China e na demanda regional, além das tarifas americanas que impactam as vendas nos Estados Unidos.
As gigantes alemãs do setor automobilístico – que incluem a BMW e a Mercedes-Benz, além da Volkswagen – dependem da China para cerca de um terço de suas vendas e foram atingidas por uma economia mais fraca no país e pela concorrência mais acirrada das montadoras chinesas, em meio a uma guerra feroz de preços de veículos elétricos.
A queda na demanda europeia também não ajudou. As vendas de carros novos na UE caíram 18,3% em agosto em relação ao mesmo mês do ano anterior, atingindo o nível mais baixo em três anos, com perdas de dois dígitos nos principais mercados — Alemanha, França e Itália.
Houve recuperação em setembro (+10%), outubro (+5,8%) e novembro (+3,7%), sustentada por aumento de vendas de veículos híbridos.
Um estudo realizado pela plataforma TradingPedia, com base nos registros de novos automóveis da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA) entre janeiro e setembro de 2024 e 2025, revela uma transformação estrutural no comportamento dos consumidores e nas estratégias das montadoras europeias.
“Os híbridos estão atuando como um estabilizador de mercado, suavizando a transição entre os motores convencionais e os elétricos puros, especialmente em regiões onde o poder de compra e a infraestrutura ainda limitam o avanço total da eletrificação”, explica Michael Fisher, analista da TradingPedia.
O apetite do consumidor europeu por carros híbridos e elétricos está crescendo de forma consistente, mas abaixo do ritmo esperado pelas metas da União Europeia. Apesar de já representarem mais de 60% das vendas de carros novos em 2025, o crescimento não é suficiente para garantir a transição energética no prazo estabelecido – que prevê a proibição de motores a combustão em 2035.
A própria UE discute flexibilizar regras para não sufocar a indústria local, estudando permitir brechas regulatórias e até uma prorrogação de cinco anos (até 2040).
Bruxelas já sinalizou que não haverá banimento completo em 2035, mas sim restrições graduais, com possibilidade de produção limitada de veículos a combustão sob certas condições – devido a avanços em combustíveis sintéticos (e-fuels) e biocombustíveis.
A pressão da indústria automotiva europeia, incluindo da Stellantis (dona de Fiat e Jeep) e da Mercedes-Benz, que temem perder competitividade frente às montadoras chinesas, também está sendo levado em conta.
Embora um eventual alívio seja bem-vindo para um setor que responde por cerca de € 1 trilhão (R$ 6,4 trilhões) em produção econômica, ele também traz riscos. Flexibilidade excessiva pode retardar o desenvolvimento tecnológico e ampliar a distância em relação à americana Tesla e a concorrentes chinesas como a BYD.
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